Autarquia destaca projetos de Gaspar e região que dão bons exemplos quanto à reutilização da água
“Água e Desenvolvimento Sustentável” é o tema do Dia Mundial da Água deste ano. Para que bons exemplos locais sejam destacados e assim gerem boas ideias, o Samae de Gaspar falou com especialistas da área ambiental, educadores e empresários sobre sistemas de reuso da água, especialmente proveniente da chuva.
Principalmente nos últimos anos, a gestão de água tratada tem sido um tema muito discutido entre os gestores públicos, meio empresarial e a população. A crise hídrica que se abateu sobre a capital de São Paulo (SP), fez com que a água se tornasse um ponto central no debate sobre sustentabilidade no Brasil. Em Santa Catarina, mais especificamente na região do Médio Vale do Itajaí, esse bem vital é encontrado em abundância. No entanto, não se pode esperar que a água acabe para que seu valor seja percebido, o uso racional deve ser feito hoje.
Membro do Clube de Engenharia e Agronomia de Brusque (CEAB), o arquiteto e pós-graduado em projetos sustentáveis, José Roberto Martins Junior, afirma que a instalação do sistema de captação de água da chuva é simples e financeiramente viável. “Uma pessoa investiria em média mil reais para colocação do reservatório e outras instalações necessárias. Não há custo com a manutenção, pois ela pode ser feita pelo próprio usuário a cada três meses.”
O processo de captação de águas pluviais acontece em quatro etapas: captação, filtragem, reservação e distribuição. A água da chuva que cai na calha passa por um filtro – seja uma simples peneira ou um filtro mais aperfeiçoado – e escoa até o reservatório. A bomba elétrica é acionada e a água é levada até o seu destino final. Veja a ilustração abaixo:
(Modelo de sistema de captação de águas pluviais - Material disponibilizado por José Roberto Martins Junior)
Martins também explica que nos últimos sete anos, a variedade de produtos para instalação de calhas e filtros tem crescido e atualmente podem ser encontrados com facilidade. “O forte apelo acerca da sustentabilidade e da própria arquitetura sustentável fez com esses materiais se tornassem artigos simples de se encontrar.”
Além disso, ele reforça que mesmo quando a água está com a turbidez elevada é possível reutilizá-la. “A turbidez da água pode ser percebida por sua coloração, quanto mais escura mais alta é a turbidez. Por exemplo: após lavarmos a roupa, a água tende a ficar com uma cor acinzentada, porém, ela ainda é utilizável, pode-se lavar a varanda ou calçada”, esclarece o arquiteto.
O empresário e engenheiro mecânico de Brusque, Udo Aurélio Serpa, mostrou ao Samae o sistema de captação de água da chuva, em funcionamento na fábrica de máquinas e equipamentos para indústria têxtil, Brastec. Serpa conta que o reservatório tem capacidade para três mil litros e que a água da chuva é usada na descarga dos banheiros, lavagem do pátio e de carros. “Em apenas uma descarga são gastos cerca de 10 litros de água tratada. É muita água perdida! Acredito que uma lei, que obrigue as empresas a se adequarem à reutilização é fundamental”, afirma Serpa.
Em Gaspar, a Escola de Educação Básica Ferandino Dagnoni é precursora no sistema de reuso de água pluvial. Como parte de um projeto ambiental, a escola instalou, em 2010, uma caixa d’água de 20 mil litros para reservação e reutilização de água da chuva. “A água de reuso é destinada aos banheiros. Há dois registros. Quando o reservatório da água da chuva está vazio ligamos o registro da caixa de água tratada. Nesses cinco anos não tivemos nenhum problema com manutenção”, diz o diretor-adjunto Osvaldo Claudino dos Santos Neto.
Ambos os projetos têm enorme importância no impacto ambiental, haja vista que o vaso sanitário com a válvula e tempo de acionamento de 6 segundos gasta de 10 a 14 litros de água. Hoje, cerca de 30% do consumo doméstico de água potável é usada para descarga.
A pesquisadora e coordenadora do Programa de Pós-graduação em Engenharia Ambiental da Universidade Regional de Blumenau (FURB), Noemia Bohn, alerta que a gestão hídrica deve-se dar de forma participativa. “Precisamos entender que é fundamental que cada um faça sua parte. A cor marrom do Rio Itajaí Açú que sempre vemos é um complicador. É causado pelo manejo inadequado do solo tanto da área urbana quanto da área rural. O rio conta a história por onde ele passa. Estamos contando a nossa”, conclui Noêmia.
Consumo consciente
A água não-potável pode ser aproveitada de diversas formas. Seguem algumas sugestões do Samae para você economizar água e ajudar no gerenciamento hídrico da região onde vive.
A água não potável pode ser usada para:
• Uso sanitário: descargas;
• Irrigação em gramados e plantas ornamentais;
• Lavagem de veículos;
• Limpeza de pátios;
• Espelhos d’água, chafarizes, fontes luminosas, lagos artificiais;
• Construção civil;
• Limpeza de tubulações;
• E usos industriais e agrícolas.
Aproximadamente 70% da superfície terrestre encontra-se coberta por água. Entretanto, a maior parte desse volume – cerca de 97% – é de água salgada, restando apenas 3% de água doce no planeta. Desta pequena parcela, somente um terço de água é acessível; encontrada nos rios, lagos, lençóis freáticos superficiais e atmosfera. Toda a porção restante é representada por geleiras, calotas polares e lençóis freáticos profundos, o que a torna inacessível ao homem.
A água é um bem precioso, por isso é importante que a atenção quanto ao seu uso correto seja constante. Preserve, Reserve, Reutilize, para que muitos mais Dias da Água sejam comemorados!
O Samae agradece ao engenheiro civil e membro do Conselho Municipal de Saneamento de Gaspar e do CEAB, Rogério José Olinger, pelo acompanhamento da pesquisa em questão.
(Da esquerda para direita: Rogério José Olinger, Udo Aurélio Serpa e José Roberto Martins Junior)
(Sistema de captação de água da chuva da empresa Brastec)
(Instalação da sistema de captação da Escola Ferandino Dagnoni)